Lá vai Lisboa



O terrorismo intelectual já conhecíamos há muito: quem discorda de um determinado documento ou de uma determinada decisão da UE é contra a Europa.

Agora temos também o terrorismo kitsch: quem discorda do «Tratado de Lisboa» não é patriota.

Pedro Mexia

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O Tratado de Lisboa

Não vale a pena descrever o debate sobre o Tratado de Lisboa como um conflito entre europeístas e anti-europeístas. Já não estamos aí. Os argumentos soberanistas contra a Europa estão esgotados. E nem sequer eram os mais relevantes na altura em que a Constituição Europeia estava em cima da mesa.

Este Tratado de Lisboa não é um tratado satisfatório por motivos que residem, antes de mais, na própria Europa. Mesmo se muitas inovações concretas do Tratado também nos penalizam a nós, como o novo desenho institucional que foi agora criado.

A verdade é que a Europa não precisava de 90% da antiga Constituição Europeia.

Há muita gente que elogia o acordo obtido, como se este representasse o nascimento de uma «Nova Europa». O Professor Freitas do Amaral até sugeriu que se toque o Hino da Alegria na cerimónia de assinatura.

Mas não há «Nova Europa» nenhuma.

Para citar aquele que é talvez o melhor politólogo da integração europeia no momento, o inglês Simon Hix, este Tratado é o mais irrelevante de todos os tratados europeus. E era também o mais dispensável. Os problemas de fundo da Europa (transparência, mobilização, abertura às reformas) não vão ser resolvidos com este Tratado.

Quem defende com entusiasmo o Tratado que nos explique as superiores vantagens das suas inovações, antes de nos bombardearem com uma linguagem épica que não tem aqui qualquer sentido.

Pedro Lomba

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A «respeitabilidade»

Apesar de em 1976 ter votado contra a Constituição, o CDS faz parte do chamado «arco constitucional». Em grande medida porque entrou no «arco da governabilidade» via coligações com o PS e o PSD.

Não se percebe por isso a obsessão recorrente pela «respeitabilidade» que assola o Caldas. E ainda menos os caminhos abstrusos para essa «respeitabilidade». Durante anos a «respeitabilidade» significou o «centrismo», essa suprema aberração ideológica. Agora, o CDS quer ser respeitável aderindo aos unanimismos do Bloco Central. E logo num dos seus aspectos mais nefastos.

Por mais avanços e recuos doutrinários que o CDS tenha tido (e teve), nada justifica que agora ache o Tratado de Lisboa bestial, o referendo dispensável e os críticos, porventura, uns «anti-europeus».

Se é isto ser respeitável, então precisamos de uma direita bastante mais (digamos) infame.

Pedro Mexia

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Leituras



Os propriamente ditos, para desenjoar dos PowerPoint.

Pedro Mexia

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