Atestados morais é no guichet 16

Não existe uma «boa direita» e uma «má direita». Como não existe uma «boa esquerda» e uma «má esquerda». Existem simplesmente diferenças de opinião. E as diferenças de opinião não são diferenças de carácter.

Pedro Mexia

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Ensaios de Terror

Já conhecíamos o policial, o thriller, a literatura gótica, os horror books, enfim: toda essa ficção de qualidade diversa interessada em espalhar o medo junto do público. Agora, parece que vamos ter de acrescentar um novo género: o ensaio de terror.

Como definir o género? O ensaio de terror baseia-se em reflexões directas e enxutas, sempre com alguma base empírica ou sociológica, à volta de um tema de actualidade política, económica ou social.

O ensaio de terror procura prender os leitores, recorrendo a diferentes ilustrações de uma realidade que os seus autores consideram aterradora. A sensação de terror vai crescendo à medida que o ensaio avança, até o leitor ficar convencido de que a única forma de escapar passa por uma mudança de comportamentos, de hábitos ou de políticas.

O ensaio de terror pretende mexer com interesses e preocupações básicas das pessoas, na mesma medida em que as histórias de terror visam agitar os nossos pânicos e fobias e os policiais a nossa incredulidade.

O ensaio de terror estabelece sempre um compromisso mínimo e razoável com os factos e a verdade. A interpretação pode estar errada, mas os factos são verdadeiros e verificáveis.

Um excelente exemplo de um ensaio de terror é o recente livro de Alberto Alesina e Francesco Giavazzi, Goodbye Europa. Cronache di un declínio económico e politico, traduzido este ano em Portugal como O Futuro da Europa (edições 70).

Alesina e Giavazzi são dois académicos que se transferiram para a exigente universidade americana. São ambos também colunistas em jornais italianos: o segundo escreve semanalmente no “Corriere della Sera”.

Servindo-se do método típico do ensaio de terror, Alesina e Giavazzi avisam logo à partida que querem irritar e provocar os europeus. Depois apresentam os factos da dura realidade europeia. Sustentam que um mundo em que os rendimentos individuais não crescem não torna felizes as pessoas. Falam da cultura da estagnação que se apoderou da Europa. Referem que o período de crescimento económico, acompanhado de elevados índices de protecção social terminou. Notam que os europeus trabalham menos por falta de incentivos para trabalhar mais, por causa de leis laborais demasiado protectoras ou sistemas sociais demasiado generosos. Advertem que os europeus precisam de imigrantes para combater o declínio demográfico e precisam de encarar os probleas provocados por essa imigração, através de politicas de imigração selectivas.

E, sobretudo, concluem que os Estados como a Itália (o diagnóstico também é válido para Portugal) criaram grupos de privilegiados e protegidos que se opõem a afirmaçao do mérito, desconsideram o trabalho e distorcem o Estado social.

Alesina e Giavazzi voltaram à carga com outro livro (um panfleto) chamado Il liberalismo è di sinistra. Escreveram-no propositamente para influenciar a coligação que sustenta o governo de Romano Prodi.

Se o liberalismo é de esquerda ou de direita, não sei nem me parece um debate importante.

Mas posso dizer que este ensaio de terror surtiu algum efeito. Por mim, estou assustado.

Pedro Lomba

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