Depois dos gémeos







Um dos mais arreigados tiques pavlovianos que afectam a direita é o fascínio com políticos e políticas intragáveis apenas porque «chateiam a esquerda».

A direita europeia tem de perceber de uma vez por todas que não é com políticos demagogos como Berlusconi nem com líderes reaccionários como os gémeos Kaczynski que vai contribuir alguma coisa para a boa governação. É gente que «chateia a esquerda» mas que envergonha a direita que tem vergonha na cara.

Agora que o «Cavaliere» e Jaroslaw Kaczynski já foram apeados, é importante jogar com as virtudes e os defeitos do actual eixo franco-alemão. Ou seja: aproveitar a eficácia de Merkel e Sarkozy, ultrapassando a falta de carisma dela e o excesso de energia dele.

Depois há Cameron, que parece ter mais «marketing» que substância, mas que vai depender muito dos erros cometidos por Brown, que é um político sólido.

E há ainda Aznar, que tem apenas 54 anos e cuja carreira não acabou.

Os outros, com eventual desculpas à direita do Luxemburgo ou da Eslovénia, não contam.

Pedro Mexia

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O «Tratado de Lisboa»

O «Tratado de Lisboa» é noventa ou noventa e cinco por cento igual à famigerada «Constituição», riscados os delírios que imaginavam a Europa como se fosse um Estado único e negociados alguns acordos de mercearia.

É um Tratado que não serve.

Os críticos dos críticos dizem que estes não sabem explicar quais são «os problemas». É claro que sabem. São, entre outros, estes:

Os problemas programáticos: o que é exactamente uma situação de «mais que mercado comum» e «menos que Estado federal»?

Os problemas estratégicos: não há «alternativa aos Estados Unidos» sem poderio militar efectivo, e os europeus não parecem nada interessados em gastos militares.

Os problemas democráticos internos: como funciona a 27 (e mais) uma instituição que cresceu com dez ou doze? É uma matéria que implica lógicas complexas e nada evidentes no capítulo das regras de votação (nomeadamente as «duplas maiorias») e de bloqueio.

Os problemas democráticos externos, que incluem o (des)interesse das opiniões públicas pelos temas europeus, as taxas de participação nas eleições europeias e o grau de envolvimento dos parlamentos nacionais. E, naturalmente, o referendo.

E isto é só começo de conversa.

Pedro Mexia

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